ALTERAÇÃO DO ENDEREÇO

sábado, 25 de junho de 2011

-" Mais um comentário a "No Brasil, falar errado é... certo "

Relacionado com o artigo "No Brasil, falar errado...é certo" recebi mais o seguinte comentário que abre uma nova perspetiva e que, de algum modo, embora pela negativa, vem dar razão ao autor do artigo.


"Por favor, leiam o seguinte texto. Será muito enriquecedor para a discussão, e para  consertar argumentos usados que, francamente, em sua maioria não têm nada a ver com a discussão em si.
A questão não corresponde a PT, PSDB, ou qualquer outra sigla relacionada, e sim siglas como UFRJ, USP, e quaisquer outras siglas de universidades e suas respectivas Faculdades de Letras. Assim como eu não concordo com as informações transmitidas, e mesmo assim li esse texto, espero que o responsável pela sua publicação leia esse outro encaminhado por mim, que se trata de um comentário coerente de alguém compromissado com a educação.

http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=745

POLÊMICA OU IGNORÂNCIA?
DISCUSSÃO SOBRE LIVRO DIDÁTICO SÓ REVELA IGNORÂNCIA DA GRANDE IMPRENSA

Marcos Bagno
Universidade de Brasília

Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua. Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos do que eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentemente convencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).

Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.

Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito. E, é claro, com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela — devidamente fossilizada e conservada em formol — que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.

Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.

A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver as coisas em perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes. Nesses discursos só existe o preto e o branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.

Darwin nunca disse em nenhum lugar de seus escritos que “o homem vem do macaco”. Ele disse, sim, que humanos e demais primatas deviam ter se originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso que precisava de um lema distorcido como “o homem vem do macaco” para empreender sua campanha obscurantista, que permanece em voga até hoje (inclusive no discurso da candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado).

Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa não significa automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.

Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles — se julgarem pertinente, adequado e necessário — possam vir a usá-la TAMBÉM. O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme, que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três gatos pingados).

O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em que a defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente. Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?

5 comentários:

Barbara disse...

....acontece.
Porém, não tenha o sistema globo como referência .

Assim como, escorregar vez por outra numa língua tão rica, nem pecado é.
Vez por outra...

Mas me arrisco a defender os que são mais simples, os da roça, com suas falas regionais, que é o portugues acrescido de tantas influências advindas da nossa história.

1 abraço

Julio Teixeira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Julio Teixeira disse...

Deixem a línhua em paz!
O homem necessita de normas, leis e códigos para se manter dentro de uma ordem civilizada.
Se a língua, de repente deixar de ter normas e regras vira o que esses senhores anarquistas querem.
E não é só a língua. As leis, a moral, a ética e isso tem a ver com o gramscismo, sim, e esse é da esquerda raivosa.
E no Ocidente, nomeadamente no Brasil atual, entre um bandoleiro, criminoso Italianao, Antonio Gramsci e o Cristo,o sistema filósifico grego que velam ainda pela norma ética e moral da Polis...
Fiquemos com estes valores do tripê ocidental: Filosofia grega, Direito romano, e a religião judaico-cristã na sua forma mais pura do religar e a língua, limpa, para melhor expressar o pensamento, a arte, o amor ao próximo e dar exemplo ao mundo, como se se diz estar esse papel reservado ao Brasil, que vem sendo preparado desde que Sagres e as caravelas por aqui aportaram.
E nenhum academico é dono da verdade.
Mormente pós revolução militar, quando os marxistas tomaram as universidades.
E o Problema não é do socialismo nem no capitalismo, mas no homem que deseja destruir valores universais em nome do modernismo... como esse senhor deixa claro na frase, em que diz que os jornalistas não sabem o que se passa nas academias, como se houvesse "algo de novo debaixo do sol"!
Embora haja, mas dificilmente está na Universidade e muito menos na área do intelecto.
É, o tempo passou, e a razão puro e simples também.
Mas no caso em pauta foi superada, não subvertida.

Julio Teixeira disse...

Em homenagem ao Ministro Paulo Renato, que acaba de falecer...

Mas de verdade, caro Norton,
De verdade em relação aos modernos lingüísticos, das modernas universidades brasileiras, nomeadamente a UNB.
Universidade de Brasília, aqui muito bem representada por esse senhor professor, a acusar os jornalistas de não conhecerem o que se passa no interior das universidades, entre os guardiões da língua, como se a língua precisasse, para quem a conhece bem, sim, precisasse de alquimista, quando não os precisa por precisa já ela ser, na sua essência.
Se quiserem das cascas que ela vai soltando, nessas porcarias parasitárias que vão surgindo, pelo vicio humano, que induz ao erro que é o vicio do menor esforça socialista, a fazer graças com o o vicio no teatro do absurdo, à noite, meio embriagados, subvertendo a língua, seu instrumento de trabalho no sentido negativo, marginal, como talvez sua deturpação ideológica vá, já a esta altura sendo necessário negar, alegando neutralidade, direita e esquerda como se nos corações, terrivelmente apaixonados, de sangue, esses senhores marxistas, à noite, embriagados diarréias mentais como essa não seja acometidos e depois ora a negar, disfarçando com disse me disse em nova babel, e num tom gerundista com caras de gênios, meio tolos, mas ao sol, como diz o Faraó Iluminado, não adianta o escondidinho da universidade, pois de verdade, senhor gramático da UNB, “nada de novo debaixo do sol”... como disse o Iluminado faraó!
E aí eu celebro e tomo um honesto cálice de vinho, mesmo sem o beber, que o não tenho nem hora boa é, para o tomar, mas um bom café, sim, um bom café.
E no código que a memória me traz, Camões, Vieira, etc. e tais...
E a gramática normativa da língua portuguesa, sem agressões corporais, e que das cascas se faça artesanato, sim artesanato... mas norma não, que vá além de uma gíria, como essa de agora do maldito e “insonoro” gerundismo, que insiste em “vou estar fazendo”, mas defecando palavras a gerundiar, sem fim...

Julio Teixeira disse...

corrigindo (Sejam) em vez de seja.